RPGs no Ciberespaço Grunky

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A Verdade nem sempre é histórica, mas sempre é uma história

Se tem um elemento que posso destacar como central na minha visão filosófica sobre o mundo é que tudo é uma história, algumas são contadas sobre o nosso mundo (o mundo "primário"), outras são contadas para nós mas acontecem no mundo "secundário" (que muitas vezes chamamos de mundo da imaginação), porém não se tratam de coisas irreais, mas de coisas que acontecem em uma realidade com uma "grandeza ontológica" menor, porque elas não tem a mesma subsistência que a nossa realidade por não pensarmos nelas o tempo todo e não termos a capacidade de dar a elas uma vida independente de nós (elas existem enquanto pensamos nelas mas seus personagens não pensam por si mesmos, apenas através de nós). Tolkien já explicou em parte como funciona essa relação, pois ele criou a partir do que era criado, da capacidade dada pelo próprio Criador (que é o Senhor do Tempo e do Espaço e que sustenta constantemente a realidade com Sua Vontade, porque está sempre pensando em nós). Portanto Deus é o grande contador de histórias, que conta a história do mundo, mas diferente de um livro/filme que foi pré-produzido e ao ler/assistir não importa quantas vezes volte e passe de novo é sempre igual, Deus criou o mundo com seres capazes de criar e viver de forma independente dEle (como o exemplo do ator de teatro a interpretar seu próprio papel que descrevi na página inicial). Usei a expressão "grandeza ontológica" para diferenciar o mundo primário do secundário, esta é uma ideia de Santo Anselmo de Cantuária, que se assemelha muito a quarta via de Santo Tomás de Aquino para provar a existência de Deus, e Tolkien conhecia esta ideia, pois era uma de suas fontes como católico.

De nenhuma forma este deve ser considerado um ataque à ciência histórica, pelo contrário, é um complemento aos meros fatos históricos sobre verdades que eles não conseguem dizer por si mesmos, pois na maioria das vezes as informações que temos são fragmentadas e dependentes do entendimento do narrador, da mesma forma que assumir uma posição agnóstica apenas diz que a pessoa vive pelo princípio de não pensar, pois o dogma é um ponto de partida para qualquer pensamento, alguns simplesmente escolheram se negar a escolher um ponto de partida, o que mata a atividade de pensar. Em algum momento preciso confiar que um ponto de partida irá me levar em um ponto de chegada (uma conclusão), e a partir daí é que segue o movimento da vida em que contamos a nossa história vivendo esta história. Não é à toa que a Igreja entende a família como uma "corrente de gerações" (não é um termo exato, mas a ideia é que todos participamos desta história da humanidade unidos pelos laços familiares que são formados dentro desta que deve ser uma comunidade de amor, espelhada na própria imagem da Trindade) em que apenas o núcleo familiar é descrito como "pai, mãe e filhos".


RPG e a personalização da história

Sempre existiu na humanidade representações artística da própria vida humana, desde as pinturas da caverna, passando pelos teatros da antiguidade, pelas trovas medievais, pelo cinema, até os jogos eletrônicos mais modernos (que estão cada vez mais imersivos), além da literatura, música e outras formas de arte de todas as épocas. O exercício imaginativo sempre fez parte da vida humana e alguns até afirmam que faz parte da capacidade de criar empatia, pois muitas histórias permitem nos colocar no lugar de outras pessoas e vivenciar coisas que de outra forma seria impossível (ou muito arriscado) ou que é uma forma de criar conexões sociais a partir de uma mesma fonte simbólica (como fazer amigos por interesses em comum). Nós partilhamos desta natureza criativa e podemos criar conexões com pessoas, expressando nossa própria personalidade e entrando em contato com a personalidade dos outros, tocando tudo aquilo que é comum e ao mesmo tempo descobrindo que existem coisas únicas em cada um. As pessoas introvertidas sabem o quanto pode ser difícil de criar laços mais profundos com alguém, ou de criar qualquer laço (dependendo do caso), porque as relações dão trabalho, e o trabalho diz muito sobre a personalidade porque mostra como nós somos diante das situações da vida que exigem de nós uma atitude, às vezes sem muita possibilidade de fazer longo discernimento ou quando se trata de decisões sem volta.

Apesar de estarmos em uma era que as nossas maneiras de contar histórias sejam consideradas (e geralmente usadas) apenas como um entretenimento, acredito que quando alguém se empenha em uma tarefa que não é de sua obrigação a pessoa consegue tornar aquilo realmente pessoal. Diante dos jogos eletrônicos que chegam para nós prontos, onde apenas vivenciamos as histórias que são ali contadas (de forma mais ou menos precisa, já que existem jogos com características de diferentes escolhas e mundo aberto), uma pessoa escolher jogar um jogo como o RPG de mesa (Role Playing Games = Jogos de Interpretação de Papéis) muitas vezes é mal interpretado exatamente por se tratar de um compromisso assumido, junto com outras pessoas, para viverem uma história compartilhada entre seus personagens (o que exige muito tempo e dedicação, por isso não se trata "só de um jogo"). Mesmo que se recorra a materiais oficiais (com uma história já pronta) ela será única para cada grupo de amigos e aventureiros que ousarem passar por ela, e como muitas coisas na vida, depois que passamos por certos acontecimentos eles nos mudam (para melhor ou pior). Mas o ponto é que a imaginação nos serve de guia, não só no sentido simbólico, ela realmente ensina algo real quando usada com sabedoria, e um empenho pessoal no mundo da imaginação pode fazer de nós pessoas melhores no mundo real.

Sempre gostei de RPGs e já tive contato com alguns sistemas (D&D, Vampiro, Chamado de Ctulhu...) além dos RPGs para computadores e consoles, sei que existem muitos "sistemas próprios" (adaptações dos sistemas oficiais ou até mesmo sistemas criados sem o auxílio de outro sistema, embora possam ter inspirações), e também sei que existem muitas tentativas de adaptar jogos para terem um conteúdo mais voltado aos temas explicitamente cristãos (como os "Bible Games" = "Jogos Bíblicos", por exemplo). Geralmente essas adaptações não trazem um entretenimento educativo ou uma diversão saudável, elas acabam se tornando apenas jogos com qualidade muito ruim, apesar de seu conteúdo ter como base a Palavra de Deus (ou os 3 pilares da Revelação: Escritura, Tradição e Magistério), existem milhões de coisas questionáveis e condenáveis neles, desde o design gráfico, passando por falhas de programação que podem tornar o jogo injogável, ou até mesmo perdendo completamente o sentido de ser um jogo ou de se cumprir com o objetivo proposto (um grande desafio para os desenvolvedores que querem evangelizar neste meio).


RPG católico: Cristandade

Uma vez que interpretar um personagem em uma história mexe com a nossa própria história, acredito que seja possível fazer essa relação entre o RPG e a vida real, talvez eu tenha as minhas dificuldades de interação social e possa aprender mais jogando, talvez eu tenha dificuldades em viver certas virtudes, em ter coragem diante de certas situações, mas se eu passo por esse "treino" da imaginação, posso aprender a replicar isso na minha própria vida. Não se trata de viver no mundo da fantasia, mas reconhecer o quão o mundo real já é fantástico por si só, mesmo que eu não converse com um elfo, posso encontrar alguém que me lembre de um, mesmo não lançando um feitiço para defender um aliado de um ataque demoníaco, posso lançar uma palavra amiga a alguém que está enfrentando seus demônios internos, se é possível fazer o mal com meu personagem, é porque reconheço que sou capaz de fazer também na vida real e assim posso evitar aquele mal com humildade, e também reconhecer aquele que fez um mal real como alguém que também pode fazer um bem real (mas talvez tenha lhe faltado imaginar essa possibilidade).

Conheci um padre que foi quem desenvolveu uma ideia inicial para uma adaptação de RPG com uma temática explicitamente cristã (certamente não foi a primeira tentativa no mundo, mas foi a primeira que conheci), pois ele também tinha uma grande paixão pelo RPG e via isso como uma oportunidade de evangelização, assim conheci o Cristandade (este é o nome original, mas pode passar por alterações). Aquilo me encantou, e decidi que queria desenvolver mais o que ele tinha começado, então passei a revisar o sistema que era simples no início (a aproximação era para pessoas que não tinham contato com nenhum RPG) e comecei a fazer minhas próprias adaptações, mas sem descartar nada do que ele tinha feito. Este ainda é um projeto em fase inicial, com necessidade de passar por muitas alterações e balanceamentos, também descobri outras adaptações de RPG com temática explicitamente cristã, dos quais tenho aprendido algumas coisas interessantes. Possivelmente terei de manter 2 versões diferentes, uma com as regras mais simplificadas sem fazer muitas alterações para manter o jogo acessível para os iniciantes no RPG, e uma com todo o conteúdo extra que venho desenvolvendo para aqueles que gostam e querem se dedicar a sistemas mais complexos.